Seguidores

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A CASA! - Parte 3


João acordou super cedo. A Casa! resplandecia com a porta e as janelas da frente abertas para o sol. Ele olhou para o portão da garagem e constatou que estava com o cadeado. Achou engraçado, ele tinha a certeza de que havia trancado a porta da frente na noite anterior. Pegou as mochilas, colocou nas costas, carregou o case com o violão e entrou no novo lar. Foi um choque para João. A sala era muito espaçosa e modernamente mobiliada. Ele jogou as mochilas nuns almofadões e sentou-se num sofá de quatro lugares extremamente confortável. Ao lado ornamentava o ambiente um vaso com plantas exóticas e uma mesinha de madeira rústica no canto. Olhou ao redor e pasmou. Próximo da mesa de jantar com tampo de vidro e pés de madeira esculpida descobriu um barzinho repleto de bebidas, balcão e banquinhos junto de um piano! Aquilo não podia ser verdade, João reflexionou que estava sonhando. Não, não podia nem ser sonho, de tão irreal o que estava vendo. Sentou-se imediatamente na banqueta frente ao instrumento deslizando os dedos por suas teclas. Era um piano austríaco Carl Sheel In Cassel preto, tipo armário, com luminárias, castiçais em bronze, teclado de marfim e detalhes entalhados, fabricado no final do século XIX. O som foi percorrendo todos os pontos da Casa!. A acústica era irrepreensível. João era violonista, mas se virava bem ao piano e impressionou-se, pois nunca ouvira um som tão perfeito como aquele fora de teatros. A Casa! sentiu-se fortalecida com as notas musicais impregnando os ouvidos de suas paredes... O músico não conseguiu sair daquele instrumento extraordinário por horas. Quando notou já era mais de duas da tarde e ele nem fora conhecer o restante da Casa! ainda.

Tirou os dedos do teclado, passou pelo banheiro e alcançou a portentosa cozinha. Abriu a geladeira de duas portas e pulou para trás, por estar completamente abastecida de comes e bebes. Um freezer lotado de alimentos congelados também o deslumbrou. Foi devagarzinho abrindo os armários e os viu repletos de alimentos não perecíveis de todos os tipos, panelas, talheres, pratos, copos. João assustou-se e achou melhor ir embora. Aquilo tudo devia ter custado uma fortuna. O velho motoqueiro procurador da Casa! devia ser um demente ou um bandido em fuga para ter tanta coisa naquela residência e ter deixado tudo nas mãos de um inquilino desconhecido, sem nem ter feito um acordo formal. Por outro lado, o instinto curioso e arrojado de João nunca duvidava da sorte, não a desprezava ou lhe virava as costas, para que ela não se ofendesse e o desamparasse. Resolveu permanecer e aproveitar. Abriu uma latinha de atum e fez um patê com maionese, tomate, milho e azeitonas. A gula o estimulou a fritar umas batatas Golden Foods. Pegou o violão e o tocou ali mesmo na cozinha. Comeu as batatas e cantou por horas, consumindo muitas cervejas e muitos cigarros. Havia um armário repleto de caixas do vício tabagista. Só conseguiu se separar do violão no início da noite.

Apanhou as outras coisas do carro, subiu as escadas com o violão e as mochilas acomodando-se num dos quartos da frente, onde pela janela viu o Fiat Fiesta para quem acenou imaginando que ele tinha lhe piscado os faróis, numa intimidade de antigos manos. Percorreu os outros quartos, todos suítes com frigobar. No banheiro do seu dormitório teve outra surpresa. Uma Jacuzzi onde relaxou por muito tempo até que um telefone tocou e não era o celular dele. Nem havia auferido, mas a Casa! contava com um telefone. Colocou um roupão que lhe serviu adequadamente, localizou o aparelho sem fio no corredor e o atendeu, dizendo um sonoro, simples, objetivo e feliz alô. Do outro lado uma voz feminina com um timbre mavioso, quase cantarolando respondeu: - “Seja bem-vindo, a Casa! é sua.” Desligou. João estremeceu, não estava entendendo nada. Que ligação tinha sido aquela? A voz tinha falado que a casa era dele. Devia ser apenas retórica, claro, por ele ser um locatário. Achou que tinha sido um engano, só podia ser. João deitou-se na cama, ligou seu lap top, pois a Casa! contava com wifi e pensou que poderia ficar meses ali sem precisar sair pra nada, só criando e filosofando. Adormeceu um sono tranqüilo e justo, achando que realmente estava sonhando inclusive quando desperto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário