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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

TADEU E MARIETA - Parte 3


Claro, meu caro leitor, que naquela idade eles não se beijaram como você e eu costumamos beijar, quase devorando e arrancando a língua de nossos parceiros e parceiras, enfiando as mãos pra todo lado. Mas provocado pelo destino, o beijo de Tadeu e Marieta fora beijo sim e provavelmente muito mais beijo do que muitos dos que nós já demos. Quando eles encostaram os lábios paralisaram imediatamente, reconhecendo o gostinho que haviam sentido e se acostumado quando trocaram as chupetas pela primeira vez. E como haviam se acostumado com seus gostinhos e corpinhos nus, passaram a se acostumar também com o sabor dos lábios um do outro.

Dois anos depois os negócios do banqueiro haviam se expandido de forma consistente para o exterior. Constantemente o poderoso empresário ia para a Europa em seu jatinho, para visitas à sede principal do grupo em Paris. O juiz também alcançara grande notoriedade em seu meio e fora nomeado para a suprema corte do país. Entretanto, colocar o inimigo na cadeia era ainda questão de honra e principal objetivo de sua vida profissional. Ele praticamente abandonara o casamento, passando muito tempo em Brasília. Tinha imenso amor pela filha e se sentia culpado em não oferecer a ela a atenção e o amor que gostaria, mas pensava ser por uma causa justa. Entretanto sempre tirava algum dia da semana para estar com Marieta. Nos casos do banqueiro, mesmo sem que o Juiz estivesse diretamente envolvido nos julgamentos do grupo empresarial, este os acompanhava atentamente,subdisiando promotores e delegados com a sua experiência e conhecimento. Exercia toda a sua influência para contribuir na aceleração e conclusão dos processos. Alguns casos já haviam chegado até a instância final e o banqueiro fora absolvido, causando grande indisposição do juiz com alguns dos seus pares. Até que finalmente, numa operação sigilosa da polícia federal, provas cabais de falcatruas do banco possibilitaram à polícia a prisão preventiva do banqueiro. O juiz até tremeu de emoção ao ver o banqueiro atrás das grades. Era o ápice da sua lustrosa carreira. Os advogados do banqueiro entraram com pedido de liberdade provisória no supremo tribunal federal e por uma coincidência era ele, o juiz hostil, quem estava de plantão. Fundamentado nas leis ele negou a liberdade ao banqueiro, que continuou encarcerado espumando de ódio.

Os advogados do banqueiro recorreram rapidamente e numa polêmica e tumultuada votação conseguiram a sua liberdade até julgamento do mérito da questão. Foi uma batalha jurídica incrível, pois o juiz teve que lutar contra vários de seus colegas de toga sendo vencido pela maioria. Ao sair da prisão o banqueiro fez o juramento de destruir o inimigo a qualquer preço. E para conseguir esse intento decidiu realizar uma ação monstruosa que certamente arrasaria e enfraqueceria o empenho do seu algoz em persegui-lo: daria sumiço na filha do juiz, a linda e delicada Marieta. Mal sabia o banqueiro o que estava acontecendo dentro de sua casa, nem com o coraçãozinho apaixonado do seu filho Tadeu. Se soubesse, porém, homem sem caráter ou qualquer escrúpulo, seria capaz até de utilizar um fato desses em proveito próprio. E foi o que acabou fazendo de forma sórdida e revoltante.

Tadeu e Marieta quando mais perto de completarem seus seis anos de idade, revelavam uma precocidade muito além da sensibilidade evidente. A inteligência dessas crianças era privilegiada e na escola que freqüentavam, acabaram tendo tratamento diferenciado pela facilidade de aprendizado que os colocava como pequenos gênios em todas as matérias, desde idiomas até artes, passando inclusive pela matemática que nem deveriam estudar ainda. Eles estavam anos-luz à frente das crianças de suas idades, mas começaram a chamar atenção demais porque não se largavam, viviam grudados, abraçados, dando beijinhos nos lábios, felizes como dois pombinhos em lua de mel. No início as professoras os acharam engraçados, mas depois percebendo que Tadeu e Marieta levavam realmente a sério aquela relação, repreenderam as crianças e as separaram de classe. O avançado desempenho deles se extinguiu, ficaram absortos, dispersos, com a cabeça em outro lugar. Estagnaram totalmente e nem das atividades básicas participavam. O caso foi levado à diretora que chamou as mães para uma conversa.

Apesar de separadas na escola, as crianças viam-se praticamente todos os dias em suas casas, brincavam, comiam, faziam os deveres da escola e continuavam até a tomar banho juntas, pois para elas os seus corpinhos nus eram vistos de forma tão natural quanto com roupa. Mas depois de tempos ouvindo as mães falarem sobre sexo, sexo, sexo e impactados pela baixa cultura disseminada pela mídia que não poupa crianças de seus tentáculos, ficaram curiosas e resolveram pesquisar como era, o que era e como se fazia aquilo. Como já sabiam manipular muito bem a internet, coletaram informações, viram fotos e filmes de todos os tipos. Ninguém estava nem aí em controlar o que essas crianças poderiam ver ou não, muito menos em orientá-las para tanto. Felizmente no caso delas, pela inteligência muito acima da média e pela sensibilidade exacerbada de ambos, as descobertas não acarretaram danos às suas personalidades. A facilidade com que as pessoas conseguem informações e a velocidade que ela circula entre as pessoas, faz a maioria dos pais não acompanharem os filhos no ritmo necessário para educá-los e prepará-los para este mundo onde a comunicação e a tecnologia comandam os passos gerais. Imaginem com as mães completamente desligadas, os pais ausentes e ninguém para suprir essas lacunas, as confusões e dúvidas que poderiam ter se plantado nas cabecinhas de Tadeu e Marieta.

Fora o risco de crianças nessa idade caírem na rede dessa praga que prolifera no mundo que nem ratos e baratas: os pedófilos. Creio que nenhum ser humano, por melhor coração que tenha, possa entender ou aceitar a mente e as ações desses doentes. Por princípios filosóficos sou totalmente contra a pena de morte. E mesmo nos casos de criminosos hediondos como esses eu continuo contra matá-los. Penso que enterrá-los até as cabeças dentro de um formigueiro seja mais do que suficiente para puni-los. Uma educação séria, voltada para a formação de pessoas com raciocínio, inteligência, talento, criatividade e sensibilidade, minimizaria a possibilidade de pessoas desenvolverem esses desvios inaceitáveis. Uma sociedade mais atenta ao homem corrigiria esses problemas a tempo.

Voltando ao nosso assunto principal, a pesquisa feita pelas crianças levou vários dias, porque até dvds de belos romances eles assistiram. Tendo nessa idade certeza de que se amavam - o amor deles nascera no berço e estava crescendo com eles - e como as pesquisas demonstravam que principalmente quem se amava fazia sexo, mesmo com idade entre cinco e seis anos Tadeu e Marieta decidiram experimentar: fariam sexo loucamente apaixonados como os grandes personagens dos clássicos romances do cinema mundial!

As mães de Tadeu e Marieta com a peculiar arrogância dos muito ricos dirigiram-se à escola na certeza de que receberiam os habituais elogios pelas performances brilhantes dos seus pequenos. Como as crianças pelo intelecto privilegiado que possuíam recebiam tratamento personalizado e estudavam matérias muito além do normal para suas idades, periodicamente a diretora reportava às mães o andamento dos seus aprendizados, sempre pedindo autorização para que elas avançassem algum período. Quando nem deviam ainda ter ingressado no primeiro grau, já tinham conhecimentos de quarto e quinto anos. Desprovidas totalmente de bom senso as mulheres se emperiquitaram para a reunião como se fossem a uma recepção no consulado francês regada a champagne Perrier-Jouet Belle Epoque safra 1995. A mulher do banqueiro usava um colar tão largo no pescoço que parecia um dourado enforcador de cães. Era tão ostensivamente atrativo que todos os olhares se viravam quando a madame passava. Até ofuscavam os olhos todos aqueles quilates de ouro. Já a mulher do juiz era discreta no colar. Portava um de prata reluzente e fina. Em compensação, os brincos, os anéis e as pulseiras dela poderiam enfeitar uma árvore de natal.As palradoras trocavam impressões sobre as últimas novidades relativas à decoração de toaletes em suítes de castelos medievais utilizados como hotéis na Europa, quando uma circunspecta diretora adentrou o recinto. Cumprimentou as mães com ar grave e foi diretamente ao assunto, que atingiu as senhoras como um uppercut desferido em seus queixos. Elas não acreditaram na ousadia da diretora em criticar o comportamento de Tadeu e Marieta, com aquelas alusões absurdas e maldosas quanto a eles não se desgrudarem, ficarem se agarrando e se beijando. As mães nem refletiram no que falara a diretora. Acusaram-na de pervertida, preconceituosa, mentirosa e maldosa. Elas julgaram a crítica aos filhos geniais uma afronta. A velha mestra havia virado de repente uma perigosa vilã e tentou explicar o estranhamento de todos os professores e alunos pelas atitudes de Tadeu e Marieta. Aí foi pior. As madames viraram bichos e colocaram as garras de fora.

A mulher do juiz ameaçou processar a escola, os diretores e os professores. A esposa do banqueiro afirmou que iria comprar o estabelecimento e despedir todos os funcionários. Surpreendida pela reação violenta das mães, a diretora tentou acalmar as mulheres mandando fazer um chá de raras ervas chinesas servido em xícaras de porcelana, afinal era um colégio de altíssimo padrão. Sabendo que estava falando com as esposas de dois homens extremamente poderosos e temendo pelo futuro dela e da escola, argumentou que havia se expressado mal e pediu desculpas. Passou a elogiar de forma desmesurada as crianças e até comentou que provavelmente ninguém ali teria entendido a amizade que elas tinham. As mães ficaram satisfeitas e foram embora sem saber que por motivos avessos tinham contribuído para momentâneos momentos de paz ao amor das crianças. A receosa educadora orientou todos os professores a fazerem vistas grossas ao relacionamento de Tadeu e Marieta, para garantir a sobrevivência daquela tradicional entidade de ensino. No futuro tudo isso iria causar grande transtorno a todos.

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