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sábado, 14 de dezembro de 2019

O NEGÃO - Parte 2


Era um segredo guardado a dezessete chaves. Só o nosso personagem e seus pais sabiam na íntegra o que ele já houvera passado. Quando nasceu, o pai assistiu emocionado o rebento irromper do casulo materno. O obstetra olhou para os genitais do recém-nascido e sentenciou imediatamente dirigindo-se aos pais: “- parabéns! É uma linda e saudável garotinha!” E tascou-lhe tapinhas na bunda para provocar o choro que saiu forte e esganiçado como o de um moleque. Assim agiu por não ter divisado no nenê o instrumento de diversão masculino e de lazer feminino. Mas quando a enfermeira foi limpar minuciosamente a criança preparando para colocar nela macacõezinhos cor de rosa, notou um borrãozinho entre as pernas do bebê. Pensando ser algum tipo de verruga, chamou a atenção do doutor. Este, sem conseguir definir o que era aquilo a olhos desnudos, pegou uma lupa e assombrou-se. Aquilo parecia um pinto! O menor bilau do mundo! O menor bastão de todos os tempos, mas era um pênis com certeza!

Imediatamente, para a surpresa dos pais e de todos os presentes, o médico alterou o veredicto: “-gente, gente, é um menino! Ele tem uma espécie ridícula de benga, mas tem!” Todos haviam ficado satisfeitos com a menina que chegara, mas receberam com extrema alegria a novidade! Vaidosos, os pais comemoraram a chegada do primogênito e enquanto admiravam extasiados o rebento, o médico convocou os principais colegas presentes ao hospital para que viessem examinar o estranho objeto que se assemelhava a um projeto de pica. O diagnóstico foi unânime: estava claro que era o menino que nascera com o pênis menos avantajado que poderia já ter existido. Ao perceberem o ar preocupado do pai, os luminares se apressaram a acalmá-lo, afirmando que apesar de ser um caso raríssimo, provavelmente o menino teria um desenvolvimento comum e normal, pois tudo nele era perfeito. O jeito era dar tempo ao tempo para aquela amostra de pirulito se transformar num insignificante talo, depois num miúdo cajado e quem sabe mais tarde num portentoso, garboso e negro trabuco bem dotado!

O negrinho cresceu e tudo progrediu a contento, menos o borrãozinho entre as rotundas perninhas. Já tinha um ano e não se conseguia ver direito as bolas daquele pintinho, uma vez que tinham o diâmetro na medida da ponta de um fósforo. A certeza de que aquele órgão era uma amostra de vara ganhou força porque dele saia xixi e não era um buraco, nem era o lugar de uma vagina, portanto as dúvidas estavam completamente dirimidas. Ali existia um socador. Os pediatras mais experientes da época foram consultados, mas a recomendação foi a mesma. Era cedo demais para se preocuparem com o tamanho do pichuleco da criança. Tinham que aguardar o menino e seu peruzinho crescerem.

O tempo passou para o menino, mas para aquele micro bingolim não. Continuava praticamente imperceptível. E quando o moleque estava na escola por volta dos seus oito anos, a diferenciação bateu forte à sua porta. Não o velado preconceito de pele por ser negro, o que era bem aceito naquela comunidade e pouco percebido pelo garoto, pois os pais dele tinham posses e eram pessoas influentes, mas sim algo dolorido que o magoou demais. Era inevitável que após as aulas de ginástica cedo ou tarde os coleguinhas descobrissem o tamanho do seu catoco. E por mais que ele adiasse aquele acontecimento, não conseguiu evitá-lo. Todas as aulas ele ficava por último para o banho, mas num dia específico a turma toda permaneceu no vestiário, desconfiada de que havia algo errado com o colega e a curiosidade os fez agir. Sorrateiramente vindo pelas costas sem que o nosso personagem percebesse, um dos amiguinhos puxou a toalha que o enrolava. Foi um desastre para ele. A turma apontou para os seus genitais procurando a ferramenta, mas surpresos perceberam que o negrinho era totalmente desprovido de piroca. Ele pulou, tentando pegar a toalha para esconder suas vergonhas, mas a turma não foi condescendente. No auge da maldade e da marginalização infantil, chamaram um japonesinho que nas brincadeiras era tremendamente gozado pela fama oriental das limitadas estaquinhas, para um teste de tamanho de pironga. Foi terrível para o negrinho, porque perto do dele, o japonesinho até que tinha um respeitável tarugo!

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