Foi demais para
esse famoso odontologista. Ele não agüentou, foi até as paredes e começou a
rasgar todos os seus diplomas de especialista em sadismo e perversões. Alguns
dos diplomas ele começou inclusive a devorar avidamente com os olhos arregalados.
A loira, assustada com a cena, ligou para uma ambulância. Foram necessários
três grandalhões para colocar a camisa de força no pobre do Doutor João, que
repetia sem parar feito um robô: - eu sou dentista, eu sei causar dor, eu sou
dentista, eu sei causar dor! Foi levado para recuperação num SPA odontológico,
onde esses seres ficam em repouso e treinamento intensivo para reciclagem dos
procedimentos torturantes, estudando e se atualizando com as últimas novidades
para verdugos bucais.
Fui embora vitorioso, sem sentir dor alguma e nem inchou. Saí da luta da forma
que entrei e imediatamente abri a primeira lata de cerva. Fui com amigos a um
bar e bebi bem, assisti a um belo show e desta vez não dirigi. Amei a minha
amada com paixão enlouquecedora. Toquei violão até as quatro da matina, depois
fiz poemas até as cinco. Adormeci em paz e levantei as oito para trabalhar.
Doutor João ficou repetindo no spa “sou dentista, eu sei causar dor, sou
dentista, eu sei causar dor!”. Como são proibidas as visitas que possam agravar
o seu tormento, mandei flores, chocolates para lhe provocar cáries e uma caixa
de Heinekens para prestar a minha solidariedade.
E lá no ringue
jaz em meio a uma gota de sangue, um dente solitário rindo dele mesmo, enquanto
no rádio toca a maravilhosa música de Chico Buarque, dizendo: “oh pedaço de
mim, oh metade arrancada de mim...”
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