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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

TADEU E MARIETA - Parte 7


Nas semanas seguintes a história de Tadeu e Marieta passou a ser comentada diariamente nos jornais, revistas e programas de TV. Tornou-se o escândalo do ano e enorme polêmica em todos os setores da sociedade. Durante esse período a escola das crianças foi interditada e os diretores afastados. Para Tadeu e Marieta, que estavam muito adiantados, a parada foi até benéfica porque os dois passaram a estudar por conta própria lado a lado. O juiz tentava de todas as maneiras separar os infantis namorados, mas a qualquer ameaça dessas seguiam-se discussões enormes, crianças doentes, tristes e sem se alimentar. As mães foram obrigadas a permanecerem mais tempo sem viajar, mas como não contavam com a menor capacidade para lidar com aquela situação, continuaram suas vidinhas divertindo-se e gastando o dinheiro dos maridos com os amantes.

Até que em determinada manhã Tadeu e Marieta estudavam na casa do banqueiro quando ocorreu uma enorme explosão no amplo quintal da frente. Com muitos quilos de explosivos o enorme portão de ferro voou pelos ares. Cerca de quinze homens fortemente armados invadiram a residência por todos os lados, com tocas de ninja e habilidade de homens-aranhas. A casa contava com seis seguranças particulares além dos aparatos mais modernos de defesa contra criminosos, mas estes bandidos eram extremamente bem treinados, praticamente uma milícia, turma de terríveis mercenários preparadíssimos para empreitadas daquele tipo. A ação foi tão bem planejada e executada que não durou mais de dez minutos para matarem os seis guardas da casa, seqüestrarem Tadeu e Marieta e fugirem antes da chegada da polícia, que fora acionada pelo alarme.

Na casa sobrou fogo, bagunça, destruição, sangue e muito desespero dos empregados que choravam copiosamente. O banqueiro foi avisado da matança e do seqüestro das crianças pelos seus funcionários e foi para lá com seus assessores além de dois carros de escolta. O juiz foi comunicado pelo secretário da segurança pública, que ordenou dobrarem o aparato de proteção ao magistrado. Ele correu para sua casa onde já o aguardava toda a cúpula policial do estado. O banqueiro também foi chamado à residência do vizinho, afinal agora tinham mais um problema em comum a resolver: a liberdade dos seus filhos. As esposas dos dois vizinhos adversários foram encontradas fazendo compras num shopping de luxo, mas quando chegaram não resistiram à tensão e precisaram de cuidados médicos.

Toda a imprensa do país estava postada defronte às casas do juiz e do banqueiro, esta crivada de balas e com bastante fumaça pelo quintal, buscando informações sobre Tadeu e Marieta. O seqüestro causou comoção nacional e os que criticavam o amor das crianças aproveitaram para tripudiar e dizer que aquela história não podia mesmo ter um final feliz. Imediatamente a ONG ALBEV se pôs na rua munida de faixas e megafones, iniciando uma vigília para oferecer apoio e ajuda às famílias bem como ao amor de Tadeu e Marieta. A LISERP (liga das senhoras recatadas e pudicas do estado de SP) também compareceu. Várias senhoras cheirando a mofo se manifestavam ruidosamente contra a ALBEV e o amor das crianças, com suas bandeiras pela moral e tradição das famílias.

Enquanto a balburdia acontecia em suas casas e a polícia se movimentava de forma paquiderme, Tadeu e Marieta eram levados em um jatinho para uma fazenda localizada a mais de 100 km de Cuiabá, no Mato Grosso. As crianças não foram mal tratadas, receberam alimentos, refrigerantes e puderam assistir filmes em dvds para passarem o tempo. Todos os bandidos estavam encapuzados e conversavam o mínimo necessário entre eles e com as crianças. Já cientes do seqüestro, Tadeu e Marieta se mantiveram calmos e obedientes aos malvados. Não tinham sofrido ferimentos, estavam juntos e se amavam muito em quaisquer circunstâncias. Acima de tudo e de qualquer coisa o importante era permanecerem unidos, mesmo que preocupados e temerosos. Depois de muito tempo foram avisados sobre a aterrissagem. Aos solavancos o avião pousou em uma pista clandestina aberta numa clareira no meio de um vasto campo. Tadeu e Marieta foram transferidos aos cuidados de outra turma que os aguardava em terra. Colocados em um Jeep viram o jatinho levantar vôo e desaparecer rapidamente no horizonte. Andaram vários quilômetros por uma agreste estrada de terra e aproveitaram para admirar a paisagem do centro oeste brasileiro, com o verde do cerrado entrecortado por árvores esparsas e várias montanhas. Queriam ter fotografado as aves e os animais que viam, mas logo se lembraram que não estavam em uma viagem de turismo.

Antes do anoitecer chegaram à fazenda e viram o gado ruminando as suas vidas sem preocupação com o futuro. Passaram por represas e por um rio desconhecido até que a estradinha foi se afunilando, tendo grandes árvores de cada lado como se fossem um comitê de recepção batendo continência com seus galhos enormes. Avistaram um grande lago e mais adiante a ampla casa sede acima de uma colina. Três eram os seqüestradores que os levavam e três guardavam a casa, todos encapuzados. Estacionaram e mandaram Tadeu e Marieta descerem do automóvel. A casa era muito grande, oferecia total conforto com seus grandes cômodos, luz elétrica, água de poços artesianos, antena parabólica. Um casal de meia idade trabalhava lá como caseiro, mas existiam outros empregados que cuidavam dos cavalos, do gado, das galinhas, dos porcos e da horta. Nenhum deles fazia parte do bando e só cumpriam ordens, sem saberem direito o que estava acontecendo. Após uma refeição deliciosa preparada pela gentil senhora, Tadeu e Marieta foram encaminhados para um quarto com banheiro e lá foram trancados com ordens de ficarem quietos até amanhecer. Apesar de saberem que estavam nas mãos de bandidos, Tadeu e Marieta vibraram de felicidade quando a porta se fechou e eles viram uma enorme cama king size no meio do quarto e várias roupas para cada um deles nos tamanhos certinhos.

Tadeu e Marieta nem acreditaram no que estava acontecendo. Aquilo, resguardadas as circunstâncias de perigo, era praticamente uma lua de mel. Os dois tomaram banho juntos brincando como quando bebês, depois colocaram os pijamas que tinham recebido e pularam na cama gigantesca. Eles fizeram guerra de travesseiros, pois a alegria deles era imensa. As crianças se agarraram, saltaram, empurraram, pularam mais ainda, gritaram, gargalharam, até que a senhora bateu na porta e mandou que eles se controlassem, pois os bandidos estavam ficando irritados com a algazarra. As crianças se acalmaram, deitaram e trocaram carinhos. Com muita ternura se beijaram aquele beijo que foi aquecendo, aquecendo, ficando mais intenso, mais e mais invadindo corpo e alma, transcendendo o espaço e o tempo, então transaram alucinadamente por horas com muita paixão. Extenuados adormeceram abraçadinhos e nem ouviram o galo cantar no quase amanhecer.

Algumas semanas se passaram e nenhum pedido de resgate fora pedido, pois os bandidos eram profissionais do ramo e iriam deixar os pais e a policia com os nervos a flor da pele. A policia dava buscas em todo o estado e um pouco mais timidamente no resto do país. O episódio era acompanhado diariamente pela imprensa e alcançou repercussão no exterior. Claro que a história de duas crianças que começaram a se amar no berço, a fazerem sexo alucinadamente aos cinco anos, eram especialmente bem dotadas de inteligência, filhos de dois poderosos ricos e inimigos, tinham sido expulsas da escola aos sete anos por conduta imoral, enfrentado pais, escola, colegas e povo pelo amor iria dar nisso, pois fora veiculada por toda imprensa brasileira com estardalhaço, causando uma enorme discussão.

Mas agora, após o seqüestro, até ONGS internacionais tinham passado a defender e procurar as crianças em todo o mundo. O Papa se manifestou condenando o sexo feito antes do casamento, aliás, antes da primeira comunhão neste caso, mas fez um apelo aos seqüestradores para devolução das crianças. O presidente da ONU discursou emocionado em uma reunião mundial aproveitando a história de Tadeu e Marieta como exemplo para o desarmamento bélico e dos espíritos, pedindo aos governantes que se vestissem de amor como aquelas crianças. A Interpol foi acionada para investigar se os garotos não tinham caído numa rede de pedófilos e prostituição infantil. Pelé, o atleta que já interrompera uma guerra jogando futebol, estava gravando um comercial na Inglaterra e numa coletiva de imprensa reafirmou que agora todos entendiam porque dedicara o milésimo gol às criançinhas. O músico Bono Vox organizou um concerto em prol do amor e da liberdade das crianças e até os Beatles remanescentes cogitaram de se reencontrar nesse evento. A coisa só ficou feia quando Michael Jackson, grande amigo de criancinhas, quis participar do evento de qualquer jeito. Para ele ser demovido da idéia foi um custo.

Mas nem tudo era apoio. No Brasil ressurgiu a TFP, organização radical de direita que sempre se arvorou a defender a moralidade segundo os seus particulares e ultrapassados conceitos, o que fez novamente chamando o amor das crianças de libertino e indecoroso, ignorando o seqüestro. Os programas de TV sensacionalistas levavam as pessoas mais retrógradas para detonar o amor das crianças. E neste país da música também foi organizado um show de apoio ao amor das crianças raptadas, só que com nível bem diferente do show internacional: Xuxa, Angélica, Eliana, Latino, Simony e Sandy & Junior. A organização ainda deu o maior furo ao convidar o Padre Marcelo Rossi já que a igreja católica condenava o amor das crianças. O simpático padre ficou na maior batina justa e saiu discretamente sem cantar. Achando que aquele evento era pouco, o compositor Gilberto Gil organizou um show paralelo: participou Caetano Veloso que subiu nas tamancas num virulento discurso chamando os detratores da paixão das crianças de “seres com as mentes e os genitais empoeirados pela falta de uso, insensíveis pelo desamor e cegos pela escuridão da burrice em que viviam”. O ápice foi a participação de Ivete Sangalo que num micro vestido de arrepiar, arrepiou de meninos de cinco a velhinhos de oitenta anos. Para culminar, os direitos de filmagem da história de Tadeu e Marieta estavam sendo disputados por Steven Spielberg, Spike Lee, Woody Allen, Michael Moore e Renato Aragão.

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