Nas semanas
seguintes a história de Tadeu e Marieta passou a ser comentada diariamente nos
jornais, revistas e programas de TV. Tornou-se o escândalo do ano e enorme
polêmica em todos os setores da sociedade. Durante esse período a escola das
crianças foi interditada e os diretores afastados. Para Tadeu e Marieta, que
estavam muito adiantados, a parada foi até benéfica porque os dois passaram a
estudar por conta própria lado a lado. O juiz tentava de todas as maneiras
separar os infantis namorados, mas a qualquer ameaça dessas seguiam-se
discussões enormes, crianças doentes, tristes e sem se alimentar. As mães foram
obrigadas a permanecerem mais tempo sem viajar, mas como não contavam com a
menor capacidade para lidar com aquela situação, continuaram suas vidinhas
divertindo-se e gastando o dinheiro dos maridos com os amantes.
Até que em
determinada manhã Tadeu e Marieta estudavam na casa do banqueiro quando ocorreu
uma enorme explosão no amplo quintal da frente. Com muitos quilos de explosivos
o enorme portão de ferro voou pelos ares. Cerca de quinze homens fortemente
armados invadiram a residência por todos os lados, com tocas de ninja e
habilidade de homens-aranhas. A casa contava com seis seguranças particulares
além dos aparatos mais modernos de defesa contra criminosos, mas estes bandidos
eram extremamente bem treinados, praticamente uma milícia, turma de terríveis
mercenários preparadíssimos para empreitadas daquele tipo. A ação foi tão bem
planejada e executada que não durou mais de dez minutos para matarem os seis
guardas da casa, seqüestrarem Tadeu e Marieta e fugirem antes da chegada da
polícia, que fora acionada pelo alarme.
Na casa sobrou
fogo, bagunça, destruição, sangue e muito desespero dos empregados que choravam
copiosamente. O banqueiro foi avisado da matança e do seqüestro das crianças
pelos seus funcionários e foi para lá com seus assessores além de dois carros
de escolta. O juiz foi comunicado pelo secretário da segurança pública, que
ordenou dobrarem o aparato de proteção ao magistrado. Ele correu para sua casa
onde já o aguardava toda a cúpula policial do estado. O banqueiro também foi
chamado à residência do vizinho, afinal agora tinham mais um problema em comum
a resolver: a liberdade dos seus filhos. As esposas dos dois vizinhos
adversários foram encontradas fazendo compras num shopping de luxo, mas quando
chegaram não resistiram à tensão e precisaram de cuidados médicos.
Toda a imprensa
do país estava postada defronte às casas do juiz e do banqueiro, esta crivada
de balas e com bastante fumaça pelo quintal, buscando informações sobre Tadeu e
Marieta. O seqüestro causou comoção nacional e os que criticavam o amor das
crianças aproveitaram para tripudiar e dizer que aquela história não podia
mesmo ter um final feliz. Imediatamente a ONG ALBEV se pôs na rua munida de
faixas e megafones, iniciando uma vigília para oferecer apoio e ajuda às
famílias bem como ao amor de Tadeu e Marieta. A LISERP (liga das senhoras recatadas
e pudicas do estado de SP) também compareceu. Várias senhoras cheirando a mofo
se manifestavam ruidosamente contra a ALBEV e o amor das crianças, com suas
bandeiras pela moral e tradição das famílias.
Enquanto a
balburdia acontecia em suas casas e a polícia se movimentava de forma
paquiderme, Tadeu e Marieta eram levados em um jatinho para uma fazenda
localizada a mais de 100 km de Cuiabá, no Mato Grosso. As crianças não foram
mal tratadas, receberam alimentos, refrigerantes e puderam assistir filmes em
dvds para passarem o tempo. Todos os bandidos estavam encapuzados e conversavam
o mínimo necessário entre eles e com as crianças. Já cientes do seqüestro,
Tadeu e Marieta se mantiveram calmos e obedientes aos malvados. Não tinham
sofrido ferimentos, estavam juntos e se amavam muito em quaisquer
circunstâncias. Acima de tudo e de qualquer coisa o importante era permanecerem
unidos, mesmo que preocupados e temerosos. Depois de muito tempo foram avisados
sobre a aterrissagem. Aos solavancos o avião pousou em uma pista clandestina
aberta numa clareira no meio de um vasto campo. Tadeu e Marieta foram
transferidos aos cuidados de outra turma que os aguardava em terra. Colocados
em um Jeep viram o jatinho levantar vôo e desaparecer rapidamente no horizonte.
Andaram vários quilômetros por uma agreste estrada de terra e aproveitaram para
admirar a paisagem do centro oeste brasileiro, com o verde do cerrado
entrecortado por árvores esparsas e várias montanhas. Queriam ter fotografado
as aves e os animais que viam, mas logo se lembraram que não estavam em uma
viagem de turismo.
Antes do
anoitecer chegaram à fazenda e viram o gado ruminando as suas vidas sem
preocupação com o futuro. Passaram por represas e por um rio desconhecido até
que a estradinha foi se afunilando, tendo grandes árvores de cada lado como se
fossem um comitê de recepção batendo continência com seus galhos enormes.
Avistaram um grande lago e mais adiante a ampla casa sede acima de uma colina.
Três eram os seqüestradores que os levavam e três guardavam a casa, todos
encapuzados. Estacionaram e mandaram Tadeu e Marieta descerem do automóvel. A
casa era muito grande, oferecia total conforto com seus grandes cômodos, luz
elétrica, água de poços artesianos, antena parabólica. Um casal de meia idade
trabalhava lá como caseiro, mas existiam outros empregados que cuidavam dos
cavalos, do gado, das galinhas, dos porcos e da horta. Nenhum deles fazia parte
do bando e só cumpriam ordens, sem saberem direito o que estava acontecendo.
Após uma refeição deliciosa preparada pela gentil senhora, Tadeu e Marieta
foram encaminhados para um quarto com banheiro e lá foram trancados com ordens
de ficarem quietos até amanhecer. Apesar de saberem que estavam nas mãos de
bandidos, Tadeu e Marieta vibraram de felicidade quando a porta se fechou e
eles viram uma enorme cama king size no meio do quarto e várias roupas para
cada um deles nos tamanhos certinhos.
Tadeu e Marieta
nem acreditaram no que estava acontecendo. Aquilo, resguardadas as
circunstâncias de perigo, era praticamente uma lua de mel. Os dois tomaram
banho juntos brincando como quando bebês, depois colocaram os pijamas que
tinham recebido e pularam na cama gigantesca. Eles fizeram guerra de
travesseiros, pois a alegria deles era imensa. As crianças se agarraram,
saltaram, empurraram, pularam mais ainda, gritaram, gargalharam, até que a
senhora bateu na porta e mandou que eles se controlassem, pois os bandidos
estavam ficando irritados com a algazarra. As crianças se acalmaram, deitaram e
trocaram carinhos. Com muita ternura se beijaram aquele beijo que foi
aquecendo, aquecendo, ficando mais intenso, mais e mais invadindo corpo e alma,
transcendendo o espaço e o tempo, então transaram alucinadamente por horas com
muita paixão. Extenuados adormeceram abraçadinhos e nem ouviram o galo cantar
no quase amanhecer.
Algumas semanas
se passaram e nenhum pedido de resgate fora pedido, pois os bandidos eram
profissionais do ramo e iriam deixar os pais e a policia com os nervos a flor
da pele. A policia dava buscas em todo o estado e um pouco mais timidamente no
resto do país. O episódio era acompanhado diariamente pela imprensa e alcançou
repercussão no exterior. Claro que a história de duas crianças que começaram a
se amar no berço, a fazerem sexo alucinadamente aos cinco anos, eram
especialmente bem dotadas de inteligência, filhos de dois poderosos ricos e
inimigos, tinham sido expulsas da escola aos sete anos por conduta imoral,
enfrentado pais, escola, colegas e povo pelo amor iria dar nisso, pois fora
veiculada por toda imprensa brasileira com estardalhaço, causando uma enorme
discussão.
Mas agora, após
o seqüestro, até ONGS internacionais tinham passado a defender e procurar as
crianças em todo o mundo. O Papa se manifestou condenando o sexo feito antes do
casamento, aliás, antes da primeira comunhão neste caso, mas fez um apelo aos seqüestradores
para devolução das crianças. O presidente da ONU discursou emocionado em uma reunião
mundial aproveitando a história de Tadeu e Marieta como exemplo para o
desarmamento bélico e dos espíritos, pedindo aos governantes que se vestissem
de amor como aquelas crianças. A Interpol foi acionada para investigar se os
garotos não tinham caído numa rede de pedófilos e prostituição infantil. Pelé,
o atleta que já interrompera uma guerra jogando futebol, estava gravando um
comercial na Inglaterra e numa coletiva de imprensa reafirmou que agora todos
entendiam porque dedicara o milésimo gol às criançinhas. O músico Bono Vox
organizou um concerto em prol do amor e da liberdade das crianças e até os
Beatles remanescentes cogitaram de se reencontrar nesse evento. A coisa só
ficou feia quando Michael Jackson, grande amigo de criancinhas, quis participar
do evento de qualquer jeito. Para ele ser demovido da idéia foi um custo.
Mas nem tudo era
apoio. No Brasil ressurgiu a TFP, organização radical de direita que sempre se
arvorou a defender a moralidade segundo os seus particulares e ultrapassados
conceitos, o que fez novamente chamando o amor das crianças de libertino e
indecoroso, ignorando o seqüestro. Os programas de TV sensacionalistas levavam
as pessoas mais retrógradas para detonar o amor das crianças. E neste país da
música também foi organizado um show de apoio ao amor das crianças raptadas, só
que com nível bem diferente do show internacional: Xuxa, Angélica, Eliana,
Latino, Simony e Sandy & Junior. A organização ainda deu o maior furo ao
convidar o Padre Marcelo Rossi já que a igreja católica condenava o amor das
crianças. O simpático padre ficou na maior batina justa e saiu discretamente
sem cantar. Achando que aquele evento era pouco, o compositor Gilberto Gil
organizou um show paralelo: participou Caetano Veloso que subiu nas tamancas
num virulento discurso chamando os detratores da paixão das crianças de “seres
com as mentes e os genitais empoeirados pela falta de uso, insensíveis pelo
desamor e cegos pela escuridão da burrice em que viviam”. O ápice foi a
participação de Ivete Sangalo que num micro vestido de arrepiar, arrepiou de
meninos de cinco a velhinhos de oitenta anos. Para culminar, os direitos de
filmagem da história de Tadeu e Marieta estavam sendo disputados por Steven
Spielberg, Spike Lee, Woody Allen, Michael Moore e Renato Aragão.
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