Os pais ficaram pasmos com a proposta
do empresário, que queria contratar o adolescente como uma atração do circo,
uma aberração da natureza. Assim como os anões, os gigantes, a mulher barbada e
o homem elefante, o jovenzinho poderia fazer estrondoso sucesso como Negão
Japonês, o Jovem com a Menor Bitoca de Todos os Tempos. Fariam concursos para
descobrir o menor afrouxa pregas de cada cidade visitada e assim ele ficaria
mundialmente famoso. O empresário acenava com a possibilidade de ele ganhar
muito dinheiro e ter uma vida repleta de aventuras, uma vez que ele nunca seria
feliz completamente sem uma companheira que pudesse conviver normalmente com
ele. Enquanto o empresário ia falando, na mente do rapaz foi formando um
turbilhão. A humilhação o deixou indignado. Ali estava um conhecido mercenário
das ilusões, um mero explorador das vicissitudes e anomalias humanas, querendo
aproveitar-se do fato dele ser o único negão da Terra que ao invés de ter uma
anaconda tinha uma isca de minhoca como pinto. Recusou veementemente o
oferecimento e o Negão Pai ameaçou o dono de circo com um processo caso a
peculiar condição do filho fosse divulgada. O empresário garantiu que guardaria
segredo, lamentou a negativa, desejou boa sorte a todos e foi-se retirando, não
sem antes pedir para dar uma espiadela, só uma espiadela no menor croquete já
criado por Deus. Agarrado pelos fundilhos, o incauto empresário foi jogado pelo
Negão Pai no meio da rua.
Assim foi seguindo a vida do Negão
Japonês, ora em meio ao glamour do mundo da moda e da publicidade, ora circulando
no meio artístico. Adormecia sempre só e amargurado, mas agora adulto o seu
êxito profissional era patente. Consideravam-no um artista excêntrico e a
grande aposta que se fazia era até quando ele conseguiria agüentar sem que
capitulasse ao assédio das beldades gostosonas e famosas que o circundavam. E
ele continuava flertando, provocando, apaixonando com seu charme, beleza,
inteligência e corpo escultural. Até que uma noite, num monótono coquetel de
lançamento de livro onde comparecera somente para levantar uma graninha,
avistou a mulher mais formosa que os seus olhos já tinham fitado. Quando viu
aquela divindade paralisou, o seu coração disparou e ele ficou arrepiado dos
pés à cabeça. Tinha que conhecer aquela moça que até aquele momento fora a única
do evento que não havia dado sinais de ter reparado na sua presença. Observando
o que a linda mulher estava bebendo, esperou o copo dela ficar vazio para se
aproximar e oferecer outro drink com o sorriso mais sedutor que possuía. A moça
agradeceu a gentileza com um sorriso também estonteante olhando nos olhos dele,
o que fez o rapaz perder a fala. Mas ela falou. Falou que se chamava Mariana.
George, o Negão Japonês, retribuiu a
apresentação anunciando o seu nome. Ele necessitou da vasta experiência adquirida
nas perambulações pelo mundo, da desinibição de ator e do jogo de cintura de
modelo para se recuperar e começar a conversar com Mariana sem gaguejar. Pela
primeira vez uma mulher o intimidara. Aquela moça realmente causara um efeito
devastador no âmago do moço, que sempre galanteava as mulheres até um ponto
máximo de aproximação. Concedia um beijo no rosto, selinhos, um roçar de dedos
pela face e fortes abraços que as faziam estremecer. Desde os seus 18 anos,
quando desistira de qualquer tratamento para aumentar a escassa geringonça, ele
utilizava tanto nos desfiles quanto nas festas uma espécie de prótese peniana
para simular que era dotado de um respeitoso falo de negão. Quando andava
altivo pelas passarelas somente de sungas ou ceroulas, as mulheres percebiam
aquele grande volume sob a roupa, enlouqueciam e depois tinham sonhos eróticos
com a gigantesca chulapa penetrando-as de todas as maneiras. E nos eventos,
quando abraçava uma mulher, não havia uma que não corasse e ficasse excitada ao
sentir aquele membro desproporcional tão rígido junto ao corpo. Mal sabiam que
era uma ferramenta falsa e inerte.
Mariana mexeu tanto com a cabeça do
modelo que ele se esqueceu que praticamente não era provisionado de tora. Mas
ele estimara demais aquela mulher com quem havia entabulado uma conversação
incrivelmente aprazível. Tinham gostos semelhantes, apreciavam arte de forma
geral, cultuavam os exercícios físicos, adoravam viajar, preocupavam-se com as
causas sociais, tudo se harmonizava entre eles. Imediatamente o Negão Japonês
se apaixonou por cada expressão, gesto e entonação de voz da donzela. Mariana
formara-se em literatura, era belíssima e tinha um corpo que o fazia suar frio
só de imaginá-la nua. Nua? Esse pensamento repentino quase explodiu o seu cérebro.
A sua visão escureceu, ficou tonto, o salão girou freneticamente... Como
poderia ele vê-la nua se nunca poderia ficar nu também para fazer sexo com sua
amada? O seu destino era o de ser um eterno virgem. Que ironia. Um negão
daquele porte, um dos principais símbolos sexuais masculinos do país, nunca
poderia expor aquele seu irrisório e sem valor pituzinho para a mulher que lhe
havia despertado tão profundo e ardente sentimento que naquele instante doía
até na alma.
Mariana percebeu o mal estar do Negão
Japonês, mas antes que ela pudesse se manifestar, ele se recompôs e convidou-a
para sentarem e continuarem o papo na parte externa do Buffet. A moça
acompanhou-o e sem cerimônias passou o braço dela pelo do dele. E de braços
dados com a maior naturalidade, foram ao jardim sob as vistas incrédulas de
convidados e jornalistas. Aquilo se propagou como uma bomba no coquetel. Será
que finalmente o Negão Japonês seria conquistado por uma atraente mulher? O
buxixo rolou solto no salão e os fotógrafos registraram toda a cena.
Indiferente aos comentários e ao espocar dos flashes, George ficava cada vez
mais impressionado com o jeito cativante de Mariana. Era uma mulher ao mesmo
tempo tentadora, mas recatada, ousada, mas com moderação. Tudo nela fazia ser
uma pessoa encantadora e os olhos do Negão Japonês brilhavam maravilhados. Ele
passou as mãos carinhosamente nos cabelos da moça e não agüentando mais
encobrir os seus anseios, deu-lhe um rápido beijo nos lábios. Mariana, mais
instigante do que ele, segurou o rosto de George e beijou-lhe deliciosa e
longamente, explorando com sua língua quente a boca sequiosa de amor do Negão
Japonês. Namoraram muito sem se importarem com a comoção que causaram e quando
se despediram tinham a certeza de que ali havia começado uma extraordinária
estória de amor.
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