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sábado, 14 de dezembro de 2019

O NEGÃO - Parte 4


Os pais ficaram pasmos com a proposta do empresário, que queria contratar o adolescente como uma atração do circo, uma aberração da natureza. Assim como os anões, os gigantes, a mulher barbada e o homem elefante, o jovenzinho poderia fazer estrondoso sucesso como Negão Japonês, o Jovem com a Menor Bitoca de Todos os Tempos. Fariam concursos para descobrir o menor afrouxa pregas de cada cidade visitada e assim ele ficaria mundialmente famoso. O empresário acenava com a possibilidade de ele ganhar muito dinheiro e ter uma vida repleta de aventuras, uma vez que ele nunca seria feliz completamente sem uma companheira que pudesse conviver normalmente com ele. Enquanto o empresário ia falando, na mente do rapaz foi formando um turbilhão. A humilhação o deixou indignado. Ali estava um conhecido mercenário das ilusões, um mero explorador das vicissitudes e anomalias humanas, querendo aproveitar-se do fato dele ser o único negão da Terra que ao invés de ter uma anaconda tinha uma isca de minhoca como pinto. Recusou veementemente o oferecimento e o Negão Pai ameaçou o dono de circo com um processo caso a peculiar condição do filho fosse divulgada. O empresário garantiu que guardaria segredo, lamentou a negativa, desejou boa sorte a todos e foi-se retirando, não sem antes pedir para dar uma espiadela, só uma espiadela no menor croquete já criado por Deus. Agarrado pelos fundilhos, o incauto empresário foi jogado pelo Negão Pai no meio da rua.

Assim foi seguindo a vida do Negão Japonês, ora em meio ao glamour do mundo da moda e da publicidade, ora circulando no meio artístico. Adormecia sempre só e amargurado, mas agora adulto o seu êxito profissional era patente. Consideravam-no um artista excêntrico e a grande aposta que se fazia era até quando ele conseguiria agüentar sem que capitulasse ao assédio das beldades gostosonas e famosas que o circundavam. E ele continuava flertando, provocando, apaixonando com seu charme, beleza, inteligência e corpo escultural. Até que uma noite, num monótono coquetel de lançamento de livro onde comparecera somente para levantar uma graninha, avistou a mulher mais formosa que os seus olhos já tinham fitado. Quando viu aquela divindade paralisou, o seu coração disparou e ele ficou arrepiado dos pés à cabeça. Tinha que conhecer aquela moça que até aquele momento fora a única do evento que não havia dado sinais de ter reparado na sua presença. Observando o que a linda mulher estava bebendo, esperou o copo dela ficar vazio para se aproximar e oferecer outro drink com o sorriso mais sedutor que possuía. A moça agradeceu a gentileza com um sorriso também estonteante olhando nos olhos dele, o que fez o rapaz perder a fala. Mas ela falou. Falou que se chamava Mariana.

George, o Negão Japonês, retribuiu a apresentação anunciando o seu nome. Ele necessitou da vasta experiência adquirida nas perambulações pelo mundo, da desinibição de ator e do jogo de cintura de modelo para se recuperar e começar a conversar com Mariana sem gaguejar. Pela primeira vez uma mulher o intimidara. Aquela moça realmente causara um efeito devastador no âmago do moço, que sempre galanteava as mulheres até um ponto máximo de aproximação. Concedia um beijo no rosto, selinhos, um roçar de dedos pela face e fortes abraços que as faziam estremecer. Desde os seus 18 anos, quando desistira de qualquer tratamento para aumentar a escassa geringonça, ele utilizava tanto nos desfiles quanto nas festas uma espécie de prótese peniana para simular que era dotado de um respeitoso falo de negão. Quando andava altivo pelas passarelas somente de sungas ou ceroulas, as mulheres percebiam aquele grande volume sob a roupa, enlouqueciam e depois tinham sonhos eróticos com a gigantesca chulapa penetrando-as de todas as maneiras. E nos eventos, quando abraçava uma mulher, não havia uma que não corasse e ficasse excitada ao sentir aquele membro desproporcional tão rígido junto ao corpo. Mal sabiam que era uma ferramenta falsa e inerte.

Mariana mexeu tanto com a cabeça do modelo que ele se esqueceu que praticamente não era provisionado de tora. Mas ele estimara demais aquela mulher com quem havia entabulado uma conversação incrivelmente aprazível. Tinham gostos semelhantes, apreciavam arte de forma geral, cultuavam os exercícios físicos, adoravam viajar, preocupavam-se com as causas sociais, tudo se harmonizava entre eles. Imediatamente o Negão Japonês se apaixonou por cada expressão, gesto e entonação de voz da donzela. Mariana formara-se em literatura, era belíssima e tinha um corpo que o fazia suar frio só de imaginá-la nua. Nua? Esse pensamento repentino quase explodiu o seu cérebro. A sua visão escureceu, ficou tonto, o salão girou freneticamente... Como poderia ele vê-la nua se nunca poderia ficar nu também para fazer sexo com sua amada? O seu destino era o de ser um eterno virgem. Que ironia. Um negão daquele porte, um dos principais símbolos sexuais masculinos do país, nunca poderia expor aquele seu irrisório e sem valor pituzinho para a mulher que lhe havia despertado tão profundo e ardente sentimento que naquele instante doía até na alma.

Mariana percebeu o mal estar do Negão Japonês, mas antes que ela pudesse se manifestar, ele se recompôs e convidou-a para sentarem e continuarem o papo na parte externa do Buffet. A moça acompanhou-o e sem cerimônias passou o braço dela pelo do dele. E de braços dados com a maior naturalidade, foram ao jardim sob as vistas incrédulas de convidados e jornalistas. Aquilo se propagou como uma bomba no coquetel. Será que finalmente o Negão Japonês seria conquistado por uma atraente mulher? O buxixo rolou solto no salão e os fotógrafos registraram toda a cena. Indiferente aos comentários e ao espocar dos flashes, George ficava cada vez mais impressionado com o jeito cativante de Mariana. Era uma mulher ao mesmo tempo tentadora, mas recatada, ousada, mas com moderação. Tudo nela fazia ser uma pessoa encantadora e os olhos do Negão Japonês brilhavam maravilhados. Ele passou as mãos carinhosamente nos cabelos da moça e não agüentando mais encobrir os seus anseios, deu-lhe um rápido beijo nos lábios. Mariana, mais instigante do que ele, segurou o rosto de George e beijou-lhe deliciosa e longamente, explorando com sua língua quente a boca sequiosa de amor do Negão Japonês. Namoraram muito sem se importarem com a comoção que causaram e quando se despediram tinham a certeza de que ali havia começado uma extraordinária estória de amor.


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