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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

TADEU E MARIETA - Epílogo


Tadeu e Marieta saíam da rodoviária de mãos dadas e sorrindo, quando de repente ouviram o engatilhar de armas. Sem pestanejar os bandidos dispararam contra as crianças, mas não se ouviu nenhum tiro ou grito. Não se viu nenhuma bala atravessando o espaço ou uma gota de sangue pingar. O tempo pareceu ter parado porque Tadeu e Marieta, que haviam se apaixonado no berço quando trocaram suas chupetas e foram se acostumando com o gostinho um do outro entrelaçando as suas almas; que depois foram se acostumando com os corpinhos nus um do outro de forma pura e natural ao tomarem banho juntos; que depois, aos cinco anos, começaram a fazer sexo alucinadamente porque tinham um amor maduro e verdadeiro; que assumiram esse amor e foram seqüestrados aos sete anos, ficando dois anos em cativeiro convivendo com a natureza e alimentando diariamente o profundo sentimento que tinham um pelo outro; que fugiram aos nove anos de idade de assassinos, polícia, caçadores de recompensa, imprensa e povo, enfrentando o mundo única e exclusivamente pelo amor, procurando um lugar para simplesmente vivê-lo em paz, juntos, só eles e o amor;

Ao ouvirem as armas sendo engatilhadas eles se beijaram o beijo mais intenso e denso que poderia ser dado por dois amantes. Um beijo com a mesma paixão de quando eles fizeram sexo pela primeira vez. Nesse momento eles não existiram mais, porque os dois só existiam um no outro e em lugar ou tempo algum. Simplesmente quiseram desaparecer e desapareceram naquele beijo que selava o amor de suas vidas. Evaporaram deixando no ar um delicioso e marcante perfume de jasmim.

Você está pensando que nada disto aconteceu. Não se lembra de ter lido nenhuma página a respeito nos jornais e revistas semanais ou assistido qualquer debate discutindo assunto semelhante. Você nunca tomou conhecimento de qualquer menção desses fatos nos noticiários de televisão. Nunca soube de shows pelo mundo ou no Brasil em apoio ao amor de duas crianças tão pequenas.  Não ouviu discursos inflamados aqui e no exterior de ONGS dando apoio ou associações conservadoras criticando tamanha paixão, que levou duas crianças a fazerem sexo enlouquecidamente a partir dos cinco anos de idade. Não viu perseguições, não acredita no seqüestro ou num juiz federal assassinando um bilionário criminoso. Não houve, em sua opinião, uma escola deflagrando a condenação ao amor das crianças quando elas tinham sete anos, não existiram mães alienadas, caseiros bondosos, nem os assassinos perversos. E finalmente você tem certeza de que as crianças não se evaporaram num beijo, quando enfrentaram o mundo aos nove anos de idade por um amor que só cabia no infinito e em todos os tempos.

Só que eu estive em Cuiabá há muitos anos atrás para promover o início da construção de uma grande indústria. Ficaram gravadas para sempre na minha mente as cenas das duas crianças saltando de um Jeep esverdeado e correndo de mãos dadas pelo terreno pedregoso na minha direção. As minhas pupilas ainda recordam os olhos negros do menino de cabelos pretos e os olhos verdes da menina de cabelos dourados rogando ajuda com as expressões mais meigas que já vi. A minha memória perpetuou a história que me contaram quando os levei na perua da empresa e o último momento em que os vi montados na moto empinada rasgando a rodovia. Também nunca esquecerei os seus nomes: Tadeu e Marieta.

Talvez você tenha razão em duvidar. Talvez eu tenha inventado tudo isto. Talvez Tadeu, Marieta e sua história de amor tenham se evaporado sem deixar vestígios. Ou você está sentindo agora um forte perfume de jasmim no ar?

FIM


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