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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

TADEU E MARIETA - Parte 9


Tadeu e Marieta se dirigiram para a rodovia Transpantaneira, distante 102 quilômetros de Cuiabá, imaginando alcançar o porto de Corumbá para escapar do banqueiro, dos assassinos, da polícia, da imprensa, do povo, do dono da moto roubada, das pessoas que viram o roubo da moto no posto, dos caçadores de recompensa e do mundo que era contra o imenso amor que eles tinham um pelo outro. Queriam apenas desaparecer pela vida e encontrar um lugar em que pudessem viver em paz. Passariam antes pela casa do juiz para pegar roupas, dinheiro e depois viajariam pelo planeta até serem esquecidos completamente. Ficaram eternamente gratos ao publicitário que os salvara e de quem não puderam nem se despedir, mas o homem, mesmo sem entender a situação, ficou muito feliz em ajudá-los e nunca mais se esqueceu dos rostos meigos daquelas crianças, nem da cena delas pulando do Jeep esverdeado, correndo pelo terreno cheio de pedras de mãos dadas, e principalmente do roubo da moto.

Em São Paulo o banqueiro entrou em pânico, ordenou aos capangas que encontrassem as crianças a qualquer preço e acabassem com Marieta. Acontecesse o que acontecesse ele já tinha providenciado altíssimo pagamento aos assassinos para depósito assim que tivessem concluído a missão. Nesse ínterim a polícia federal e a polícia de Cuiabá descobriram o cativeiro na fazenda, a matança dos empregados, o desaparecimento dos caseiros, o Jeep abandonado e o roubo da moto por duas crianças. Foi fácil juntar as peças e concluir que se tratava de Tadeu e Marieta. O juiz, que nunca mais voltara ao trabalho e havia se entregado ao álcool, quando soube da novidade reviveu. Já o banqueiro começou a pensar seriamente em sair do país e se esconder em Paris. A sua esposa e a do juiz já estavam vivendo na Europa. Só não tomou essa atitude imediatamente porque ficaria esquisito e suspeito demais ele sumir justo quando a polícia começava a desvendar o caso. Mal sabia ele que o pior estava por vir, mas ligou para o namorado dizendo que estava com péssimos pressentimentos.

A viagem de moto até a cidade de Poconé no início da rodovia Transpantaneira levou muito tempo e foi cansativa. No dia seguinte os dois iniciaram outra viagem repleta de perigos, pois além de terem em seu encalço os assassinos seqüestradores, a polícia de Cuiabá pelo roubo da moto, caçadores de recompensa atrás de um bilhão de reais e a imprensa que já descobrira a fuga deles, várias partes da estrada eram quase intransponíveis, com precárias e improvisadas pontes de madeira, enormes buracos na pista, alagamentos, charcos e muita lama. Só compensava admirar a belíssima paisagem e as revoadas sem fim das araras e garças. Não era incomum a pista ser atravessada por veados, jacarés e capivaras. Muito atentas aos perseguidores e saindo da estrada para se esconderem, as crianças seguiram cuidadosa e vagarosamente ao nascer do sol e descansaram ao escurecer, pernoitando bem próximo de uma pousada que circundava a rodovia. Claro que nesse momento aproveitaram para fazer sexo loucamente à luz da lua e sob o teto das estrelas, porque o amor delas só cabia no infinito e era além de qualquer tempo. Tadeu e Marieta haviam assaltado um posto de gasolina para abastecerem a moto em outro, o que só iria aumentar a perseguição deles pelas autoridades. A situação era completamente maluca, pois a polícia federal e a de São Paulo procuravam as crianças para protegê-las e salvá-las, mas ninguém sabia ainda disso, portanto a confusão era total. Literalmente aos trancos e barrancos o jovem casal chegou ao município de Porto Jofre, no pantanal mato-grossense e depois ao porto fluvial de Corumbá, onde embarcaram como clandestinos num navio de carga que navegaria rumo ao Paraguai.

Enquanto a fuga das crianças era divulgada pela mídia no mundo todo, a polícia federal encontrou e prendeu os caseiros na residência de familiares. Primeiramente foram tratados como suspeitos, mas quando começaram a relatar o que sabiam e o que haviam feito para salvar as crianças, tornaram-se as principais testemunhas do hediondo crime. Em sigilo absoluto foi emitida uma ordem de prisão imediata contra o banqueiro, mas antes que ela fosse cumprida um velho delegado que participava da apuração do seqüestro ligou e contou ao aposentado juiz a verdade dos fatos. Após tomar quase meia garrafa de OldParr o destruído guardião das leis e da justiça telefonou para o banqueiro, disse que precisava conversar sobre os novos rumos do seqüestro e foi convidado a ir até a casa do inimigo. Pegou na gaveta um revólver calibre 38 cheio de munição e quando estavam os dois trancados no escritório do vizinho tomando um whisky gentilmente servido pelo pai de Tadeu, chegou bem perto dele e apontou a arma para a cabeça do covarde e traiçoeiro bilionário.

Só deu tempo do homem arregalar os olhos e ouvir o tiro que espatifou o seu cérebro. Nesse instante a polícia já havia cercado a casa, arrombando em seguida a porta do escritório e dando com a cena do banqueiro morto esvaindo-se em sangue. O juiz bebia calmamente mais um copo de whisky, esse do finado adversário. No dia seguinte a imprensa mundial contou a reviravolta do seqüestro das crianças que se amavam desde o berço e que haviam conseguido fugir dos raptores. O juiz foi preso, mas o flagrante relaxado imediatamente com a alegação de legítima defesa. Era um homem em frangalhos, tinha se tornado na essência um assassino, mas cumprira a principal missão de sua vida: acabar com o banqueiro.

A aventura das crianças continuou em Assunción, capital paraguaia. Espertamente Tadeu e Marieta conseguiram embarcar em um ônibus de sacoleiros brasileiros que haviam subornado a polícia alfandegária para contrabandearem os mais diversos produtos, principalmente falsificados, para o Brasil. Escondidos no fundo do veículo foram acordar abraçadinhos ao chegar a Curitiba, primeira parada do fretado. As precoces e geniais crianças esperaram os passageiros descerem e depois desembarcaram sem saber que os assassinos contratados pelo banqueiro estavam espalhados pela rodoviária à procura dos amantes sem idade. Os maldosos tinham feito um cerco em vários estados onde possivelmente os pequenos pudessem aparecer. E após a morte do mafioso-chefe os bandoleiros tinham agora outra missão ordenada pelo novo líder da quadrilha, o namorado do extinto. Além de Marieta, que matassem também a Tadeu, o único filho, o principal herdeiro da bilionária fortuna do empresário criminoso. O menino era o grande empecilho para que os negócios ilícitos do grupo empresarial do falecido tivessem seqüência, uma vez que a mãe de Tadeu e seus amantes eram fáceis de manipular.

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