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sábado, 14 de dezembro de 2019

O HOMEM QUE IA MORRER DEPOIS DE AMANHÃ - Parte 3

Foi andando por poucos quilômetros até o escritório de contabilidade em que trabalhava, localizado no centro da cidade. O escritório ficava em cima de uma loja de roupas e ele subiu os degraus para o segundo andar com vigor que não sentia há tempos. Ao entrar na empresa já estavam lá o boy e a velha secretária. Falou bom dia, mas nenhum dos dois o olhou ou se dignou a responder. Sentados cada um à frente de uma mesa, ignoraram como sempre a sua presença que não fazia a menor diferença, não tinha a menor importância. Imediatamente o patrão entrou na sala dizendo aos berros que para variar ele estava atrasado, que ia descontar do salário que ele nem merecia receber, que era um incompetente, um estúpido fracassado e que estava propenso a despedi-lo porque não poderia mais manter um empregado relapso, inapto e vagabundo. O homem que ia morrer amanhã, sem pensar, porque o seu cérebro era destituído de miolos, saiu detrás da sua mesa, trancou a porta do escritório, fechou as janelas e cerrou as cortinas. Foi até o patrão e inesperadamente agarrou a cabeça dele, puxou-o até o armário fechando a porta do mesmo violentamente várias vezes no crânio do chefe, que ao pedir por clemência teve a língua cortada com a tesoura sem dó. Esse não desancaria mais empregado nenhum, falou o ofendido. Depois, pegou as cabeças da velha secretária e do boy, batendo uma na outra com toda a força. Como eles não usavam as suas línguas para lhe responder bom dia, cortou-as facilmente também, pois ambos estavam petrificados de medo e dor. Jogou os três no banheiro encharcados de sangue e os abandonou lá com a porta trancada. Tomou um café, fumou um cigarro, limpou a tesoura na blusa da secretária que estava em cima da mesa e resolveu comprar uma camisa nova, pois a que usava estava amarrotada e manchada de sangue.

O incauto vendedor falou tirando sarro que iria procurar algum número de camisa para hipopótamos. Contava com um metro e noventa de altura, era esbelto e costumava falar mais do que a própria boca, incomodando todos os fregueses com suas perguntinhas inconvenientes tipo leva isso? leva aquilo? Foi buscar no estoque uma camisa de tamanho extra gg e voltou com alguns modelos nas mãos, dizendo para o homem que ia morrer amanhã experimentar as roupas no banheiro, porque nos provadores só cabia gente normal... O vendedor foi seguindo o comprador da camisa, continuando a fazer gozações: - se essas camisolas não servirem a gente junta três e costura ou então busca uma roupa de mastodonte! Entraram no banheiro, mas antes de vestir a nova camisa o avantajado agarrou o vendedor pelo pescoço, enfiou a cabeça dele numa privada e apertou a descarga, quase fazendo o pobre coitado descer para o esgoto. O trabalhador tentou gritar por ajuda, mas o homem que não pensava por ter um vácuo dentro da cachola pegou a tesoura, cortou o órgão gustativo do falastrão e o enfiou novamente dentro da privada gargalhando e batendo com a tampa do vaso sanitário no cara até cortar o pescoço do quase sufocado. Após o outro parar de lutar vestiu a camisa nova, limpou a tesoura na camisa velha e foi embora, deixando o vendedor afogando-se na privada, no sangue e no pranto.

Nesse instante tocou o celular do homem e ele nem bem tinha falado alô o gerente do banco já foi dizendo irritadíssimo que estava mandando as suas dívidas para protesto, porque o homem que ia morrer amanhã era um tremendo de um salafrário que não cumpria os seus compromissos há mais de ano. O homem respondeu que estava com o dinheiro para quitar todas as dívidas e convidou o gerente para um almoço no restaurante em frente ao banco, o que foi aceito imediatamente. Apesar disso o bancário ainda manifestou que o devedor não fazia mais do que a obrigação em pagar os valores e oferecer a ele um almoço para minimizar as dores de cabeça e prejuízos que ele tinha causado. Escutando aquelas agressões, o homem que ia morrer depois de amanhã segurou tão intensamente a tesoura em seu bolso que machucou as próprias mãos. O seu instinto de animal predador o fazia estar certo de que iria devorar o gerente do banco, se alimentando do rancor do estúpido brevemente.

No trajeto para o restaurante, ao passar em frente a um templo, o homem entrou para ouvir o sermão de um líder religioso, afinal ele ia morrer amanhã e quem sabe fosse bom morrer de bem com Deus. Só que o ministro da fé, com gestos teatrais e palavras veementes, apontou para o gigantesco cidadão que entrava e falou: “- vejam meus amigos, o tamanho desmedido desse pecador que chega nesta casa de oração para se arrepender ou então arderá no fogo do inferno para sempre. Está na cara que é um guloso, um verdadeiro glutão, um exagerado que desperdiça o sagrado alimento enquanto milhões de pessoas passam fome. Ele só tem uma salvação. Fazer uma oferta generosa a Deus e dar-lhe todo o seu dinheiro para poder entrar no paraíso abençoado. Doe o seu dinheiro a Deus, irmão pecador, liberte-se da gula e salve-se, gritou o pregador histericamente.” Parecendo sensibilizado e sem pensar, porque o seu cérebro era carente de imaginação, o homem aproximou-se do púlpito com duas notas de cem reais em cada mão e quando o clérigo abriu um enorme sorriso gritando aleluia, aleluia, teve o órgão da deglutição rasgado com a tesoura afiada, para nunca mais chamar ninguém de irmão ou pecador. O colossal levantou e jogou o púlpito sobre corpo do eclesiástico, então saiu do templo gritando aleluia e abençoando os atônitos e paralisados fiéis.

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